Revista Dinheiro Rural (ed.85 de novembro/2011)
DINHEIRO RURAL
Edição
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A soja colocou Sorriso no mapa
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A turma da botina
Agricultores construíram estrada em pa rceria com o governo de Mato Grosso
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Nas décadas de 1980 e
1990, enquanto o ritmo da construção da BR-163 indicava que a rodovia
literalmente não andaria tão cedo, as estradas de chão, dentro do
próprio Estado de Mato Grosso, eram sinônimo de obstáculos ainda
maiores, especialmente para os caminhões carregados com grãos, com
destino ao porto de Santos, em São Paulo. "Plantávamos sem saber se
íamos conseguir escoar a safra", diz Adelar Corradi, da fazenda
Palmeira, em Sorriso. "Além das estradas alagadas, muitas pontes e
balsas eram engolidas pelos rios." Foi quando, em 2003, um grupo de
agricultores, que ficou conhecido como a turma da botina, e o então
governador do Estado, Blairo Maggi, tiveram a ideia de pleitear o
reembolso de parte da tributação do Fundo Estadual de Transporte e
Habitação (Fethab), ao governo federal, para melhorar as condições de
acesso às propriedades. "Além da distância dobrada, muitas vezes as
estradas alagadas impediam totalmente o acesso à minha fazenda", diz. O
acordo entre produtores rurais e o governo estadual consistiu em dividir
os custos para a construção e pavimentação de duas rodovias, a MT-242 e
MT-491. "A turma da botina ficou responsável pelas obras de base para o
asfaltamento da estrada e o Estado, pela capa de asfalto", diz Nodimar
Corrêa, um dos integrantes da turma, que hoje comanda a Associação Pro
Asfalto Sorriso Ipiranga (Apasi), criada para administrar a parceria.
Hoje a Apasi é a concessionária responsável por essas estradas que
compreendem 83 quilômetros, e do pedágio que foi instalado em 2006 e já
arrecadou cerca de R$ 12 milhões. Pela estrada da turma da botina já
passaram mais de 13 milhões de toneladas de grãos. "Ficamos conhecidos
como a turma da botina porque, literalmente, colocávamos a botina na
lama e no projeto de construção", conta Corrêa.
O fato de a turma da
botina conhecer a região, como quem conhece a palma da mão, acabou
alterando o projeto inicial, o que reduziu custos. "É a rodovia mais
barata que foi construída aqui", afirma Corrêa. De acordo com ele, o
custo dessas estradas, em Sorriso, ficaram em torno de R$ 22 milhões. A
turma da botina percorria os rios na região para delimitar o melhor
traçado para a construção das estradas. No trecho da fazenda Palmeiras,
de Corradi, que compreende mais oito propriedades, o percurso que antes
era de 90 km na antiga estrada, caiu para 18 km. "Desembolsei R$ 600
mil, mas vale cada centavo gasto", diz Corradi. Cada produtor
contribuiu, proporcionalmente para a construção de estrada, de acordo
com o tamanho de sua propriedade. Detalhe: a turma da botina tem até
hoje a merecida passagem livre no pedágio.
Vida dura: o caminho, muitas vezes alagado impossibilitava o escoamento de sua safra